domingo, 29 de setembro de 2019

LONELY

No centro da rua, cercada pela selva de pedra, cruzando olhares com todos mas não atraindo a atenção de ninguém. É isso, ela esta fodidamente sozinha. O que a faz sentir esse enorme vazio cercada de pessoas? Tudo que ela sente é que está terrivelmente sozinha sem razões. Gotas de tristeza escorrem seus olhos sem permissão. O que há de tão errado comigo? Ela pensa. Tudo que ela faz é se deixar estar sozinha, empurrar a onda que saiu dessa caixa de Pandora aberta por ela mesma. As coisas saem, ela não controla, envolta no conteúdo dessa caixa e tentando libertar-se desse emaranhado de nós em que se meteu.
Ela só quer que a deixem sozinha, mas não poderia se sentir pior quando o fazem. Não sabe porque sempre cai no mesmo ponto. A verdade é que só espera que braços a segurem e a puxem desse nó. Os braços são dela e só ela não consegue enxergar.


sábado, 7 de abril de 2018

VESTIDO DE RENDA BRANCO


Eu comprei. Comprei um vestido branco, a renda caia levemente pelo meu corpo, a pedraria se ajustava ao meu busto suavemente. Eu paguei 1825 rosas vermelhas, uma para cada dia ao seu lado.Eu levei meus sapatos azuis emprestados e prendi meu cabelo numa linda trança.

Imaginei, seus pequenos olhos negros marejados ao me ver entrando. Levei nossos filhos à escola, lavei a louça do jantar, queimei o arroz e dei comida ao nosso cão, limpei nosso quarto, tomei banho e liguei a TV no futebol. Observei sua testa se enrugar, duvidando que aquilo daria certo.

Caminhei pelo caminho de pétalas brancas e vermelhas sob os pisca-piscas que pendurei hoje cedo. Imprimi toda a lista de convidados, acomodei-os a mesa e os alimentei. Ao entrar, olhei o altar com a decoração que eu fiz, vi os olhos desacreditados dos convidados voltados a mim. Eu fui sozinha. Você não estava no altar com os olhos marejados, você não jantou com os nossos filhos e não fez a comida para que eu lave a louça, você não riu do meu arroz queimado, não fez carinho no nosso cachorro, não viu nosso quarto limpo, não assistiu ao futebol na cama. Você desistiu. E a mim, sobraram os sapatos azuis emprestados, o vestido de renda branco e o nada.

sábado, 5 de agosto de 2017

UMA MENSAGEM PARA MIM MESMA


 As vezes não conseguimos esquecer nossos problemas. Eu olho todos os dias o meus reflexo no espelho e me pergunto o porquê de estar fazendo aquilo comigo mesma. Por que pensar tais coisas que nos colocam pra baixo? Nada que eu faço parece se encaixar nos moldes, torna-se cada vez mais difícil seguir meu coração, encontrar a mim mesma e o que eu perdi, o que eu deixei empoeirado na estante mesmo? Eu pareço fraca ao pensar assim? 
  Quando mais eu tento, menos tudo isso funciona, quanto mais eu penso, mais o vazio de entendimento me sufoca, eu quero tudo e eu não quero nada ao mesmo tempo. E sabe de uma coisa? Eu não deveria me perder do meu eu desta forma, essa chuva de sentimentos escorrendo pelo meu rosto não significa que eu sou fraca ou frágil, que eu sou quebrável, eu sou tão brilhante quanto qualquer estrela e meu brilho se transporta a sua maneira. 
  Se pudesse ficar de frente ao meu eu ansioso e cheio de pensamentos confuso,  eu diria: Ei garota, você ai! Você é linda, acorda! Para de pensar que você é menor do que é, você é maravilhosa. Garotas duronas também choram viu? E você é uma delas, lembre-se, você nunca desiste. 
  E sabe o que mais? Eu estou quase sem folego, estou nadando sem rumo e afogando-me continuas vezes. Mas ainda tenho forças. Estou cansada de fugir, eu dou conta. Sou livre para ser o melhor que eu poderia ser. Não desista, porque eu não vou.

sábado, 29 de abril de 2017

Resenha: Os 13 porquês - Jay Asher

Título Original: Thirteen Reasons Why
Autor: Jay Asher
Editora: Ática
Páginas: 255
Gênero: Drama
País: EUA
Onde Comprar:AmazonLivraria Cultura


Em Os 13 porquês, observamos a história de Hannah Baker, a partir dos olhos de Clay Jensen. Isso acontece porque Clay, um adolescente comum, recebe em sua casa 7 fitas cassete, ao ouvi-las, Clay descobre que estas foram enviadas por Hannah Baker, uma garota da sua escola que cometeu suicídio alguns dias antes. Hannah grava nestas fitas as 13 razões para ter cometido suicídio e fitas são endereçadas para cada desses 13 porquês, que deverão ouvir todas e passá-las ao próximo porquê.

"Ninguém sabe ao certo o impacto que tem na vida dos outros. Muitas vezes não tem noção".

Clay era apaixonado por Hanna e ao receber as fitas e perceber que era um dos porquês, ele se vê alucinado para descobrir o que poderia ter feito que contribui para a decisão de Hanna.
Ao ouvir cada fita, enquanto caminha pela cidade, seguindo alguns pontos marcados num mapa por Hannah, Clay descobre mais dela do que imaginava ser possível, além de descobrir que Hannah era bem mais complicada do que ele achava e que seus colegas de escola escondem muitos segredos por trás das aparências.

Mas todo mundo virou as costas. Ninguém perguntou se havia algum problema comigo". 

O livro segue dessa forma, com o Clay ouvindo essas fitas e entendendo o que levou Hannah ao fundo do poço. Jay Asher conta essa história de um jeito tão fluido e viciante que ao acabar cada fita, nós precisamos virar a página e descobrir a próxima, assim como Clay. A narrativa dupla entre o Clay no presente, ouvindo as fitas e a Hannah no passado, as gravando, torna tudo mais interessante. A história de Hannah Baker nos traz diversos questionamentos. Tudo que fazemos é relevante, mesmo as menores coisas podem afetar uma pessoa de modo tão cruel que pode levá-la a destruição e muitas vezes não pensamos nisso.

SÉRIE DO NETFLIX (pode conter spoilers)
Recentemente, a plataforma streaming Netflix, lançou uma série baseada no livro de Jay Asher, a série conta exatamente o que aconteceu no livro, com o acréscimo de alguns fatos que fazem a história de Asher ter mais sentido. Na série podemos observar cada personagem citado na fita, sua história e suas motivações para cometer cada ato que levou Hannah ao suicídio.
A série aborda alguns questionamentos que vão além do livro. Por que Hannah foi tão passiva quanto aos acontecimentos de sua vida? Hannah se envolveu com cada garoto que conheceu tentando encontrar algo de bom em cada um deles e cada garoto a traiu de formas e em graus diferentes, traiu a sua confiança, minando a crença de Hannah nos homens. Assim como nas amizades, Hannah se viu sendo abandonada por cada amigo que fizera e a cada traição, a cada abandono, sua razão para acreditar nas pessoas foi tirada dela. Cada pequena coisa, cada momento de ínfima felicidade, é importante em nossas vidas. Muitas vezes não damos importância a pequenas coisas que acontecem em nossas vidas, pequenos momentos que nos trazem algo de bom. Mas são esses pequenos momentos que quando tirados de nós, fazem um estrago tão grande quanto o de uma experiência negativa, nos agarramos a essas pequenas coisas para nos manter sãos. Na fita de Zach por exemplo, ele rouba os bilhetes que Hannah recebe no saco de elogios (atividade promovida por uma professora) ato que a faz sentir-se sozinha, ou mesmo Jéssica Davis, que a encontrava todos os dias num Café da cidade para conversar e desabafar e depois, por conta de um boato, deixou de encontrá-la. Essas pequenas coisas, que tornavam os dias de Hannah mais fáceis, foram tirados dela. Por que Hannah não pediu ajuda? Em diversos momentos, Hannah dá pequenos indícios de que algo não vai bem em sua vida, mas ninguém deu importância, nem mesmo quando ela realmente pediu ajuda direta, o conselheiro se mostra completamente despreparado para ajudá-la, questiona Hannah como agressora e não como vítima e não oferece qualquer apoio emocional.
Cada personagem secundário da série nos traz temas a serem abordados, temas difíceis que geralmente não são discutidos. Bullying, homossexualidade, estupro, abuso psicológico, relações entre pais e filhos. Cada cena é tão provida de realidade que nos dá a sensação de tapa na cara, de choque, tudo aquilo realmente acontece de maneira tão cruel? Podemos ser tão cruéis sem perceber? E a tão discutida cena do suicídio de Hannah, tão forte e comovente, esfrega na nossa cara o quanto dói,a forma explicita que é mostrada, nos leva a ver que não é bonito, não é romântico, não é o caminho a ser escolhido. A mensagem gritante de todo o livro e da série é, cuidado com cada ação, você pode estar afetando alguém e nem ter noção disso e para aqueles que se veem sozinhos, você não está sozinho, você pode procurar ajuda, ao longo da história percebemos que o Clay poderia em vários momentos ter sido um ponto de apoio para Hannah, mas ela estava tão destruída que não conseguiu confiar. Faça alguém sorrir, repense seus atos, respeite o que magoa cada pessoa e principalmente, procure ajuda, nunca estamos completamente sozinhos no mundo!


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domingo, 25 de setembro de 2016

MAIS UM SOBRE VOCÊ

É estranho não é? Seus olhos fecham enquanto você ri das coisas idiotas que eu digo, você quase parece asiático e eu gosto, acho engraçado. Você me irrita a cada frase arrogante, você me irrita a ponto de querer gritar, mas eu gosto. Eu gosto de como você fica horas ao meu lado sem dizer uma palavra e esperando que eu diga todas, mesmo sabendo que não vou dizer.


Você consegue tirar meu ponto de equilíbrio e eu odeio, odeio tanto que chego a gostar. Eu adoro o modo como você me surpreende como sabe ler minhas mentiras e verdades. Você parece ter um livro de instruções de como me manusear. Eu adoro a ruga que se forma entre as suas sobrancelhas quando você está preocupado com o meu modo descuidado de ver a vida. E adoro o silêncio que você faz quando está transtornado, mas odeio quando joga tudo pelos ares numa crise de raiva. Eu amo a sua risada estranha e extravagante, é tão ridícula que me faz rir mesmo que a conversa não esteja engraçada. 

Eu odeio o modo que você toca o meu ombro, empurrando, sempre quando quer dar ênfase a alguma frase, eu odeio mesmo. Eu adoro quando você diz que meus olhos brilham e quando você faz as minhas bochechas corarem com suas conversas bobas. Odeio quando você esquece onde estão as suas meias, e grita a plenos pulmões que tudo se perde ao seu redor. E sabe o que mais? Eu amo cada pedacinho imperfeito seu, mesmo tendo tentado diversas vezes não amar, derrotada estou e estranhamente, te amo.

sábado, 24 de setembro de 2016

UM RELATO SOBRE ELA


São 4h10, a madrugada escura e fria anuncia que todos estão dormindo, sonhando coisas aleatórias e talvez sem sentido. Eu não. Meu despertador toca às 4h10. As 4h30 eu deixo a água quente escorrer pelo meu corpo, numa tentativa completamente sem fundamento de despertar meu corpo. Meu corpo, porque a mente está a mil por hora mesmo em sonho. Eu sonho com o que deveria estar fazendo acordada. Por que foi que eu dormi mesmo? Ontem eu cheguei meia noite e meia, meu irmão estava dormindo. Aliás qual é mesmo o som do riso do meu irmão? Acho que não lembro.


E ai, eu a sinto. Vem como um soco, bem no centro do estômago, meu coração parece sair pela boca tamanho o aperto que sinto no perto. Eu antecipo, prevejo que não entregarei aquele trabalho de conclusão da faculdade semana que vem, prevejo que meu aluno vai derrubar tinta na roupa e que meu inglês vai sair em francês na frente do meu chefe. Prevejo que ao pegar o metro, ele vai parar embaixo do túnel e me deixar lá, no escuro. Talvez apareça um palhaço ou dois, pra me lembrar da minha ridícula clownrofobia e para terminar talvez eu estivesse com dois palhaços num avião sem paredes olhando pra baixo, sim também tenho aerofobia. Nada sai como o esperado, os planos escorrem entre meus dedos. Meu chão se esvai. Tudo isso as 4h10 da manhã.

Às 5h o trem passa, as almas vazias se sentam sem observar as pessoas ao redor, e ela vem novamente, um filme sobre tudo que não entreguei, sobre prazos, sobre acontecimentos que foram inesperados passam pela minha mente. Ela vem e eu só posso respirar fundo e ignorá-la, ela está ali ao meu lado todos os dias, espreitando, observando meus passos e esperando o momento crucial do ataque, eu a ignoro, talvez se a ignorar todos os dias, em todos os momentos, ela suma.

Às 7h eu chego, me perguntam se eu estou bem e ela está ali me cutucando, então desabo, as lágrimas vem sem serem convidadas e escorrem pelos meus olhos por alguns segundos. Eu as enxugo. Ela está ali, ao meu lado, rindo da estupidez da situação, rindo porque eu mesma estou me preenchendo disso, de esperar demais e me sufocar com as minhas própria expectativas. Ela ri. Eu me recomponho rapidamente, me viro e sorrio: Está tudo bem. E respiro fundo. Está tudo bem, fecho os olhos e continuo o dia. Está tudo bem.

domingo, 18 de setembro de 2016

ACHO QUE TAMBÉM PRECISO FALAR DO AUGUSTO


Conheci ele num bar, ele estava ali sentado, me esperando, depois que lhe dei inúmeras e estupidas desculpas para não encontrá-lo, pensando em todas as ondas de passado possíveis, pensando em como tudo já tinha dado errado. Ele ignorou todas as desculpas e me esperou. Ele estava ali, sentado com o seu copo meio cheio, sua camiseta laranja e sua bermuda jeans. Ele me olhou, assim que cheguei, como se tivesse percebido minha presença.Chovia naquele verão de 19 de dezembro, chovia e eu estava com um guarda- chuvas quebrado, ele o segurou pra mim e segurou a minha bolsa, eu sorri, não estava acostumada a gentilezas.  Ele tentava puxar assunto, eu tentava me enfiar num buraco na calçada e nunca mais sair. Não podia me apaixonar por aquele cara, não podia, não podia.

Conversamos, parecia que já o conhecia há anos. Já conhecia, daqueles anos esquecidos na escola, anos em que nos ignorávamos. Mas por que mesmo você me procurou? Essa pergunta martelou em minha mente aquela noite toda, até que ele perguntou o que eu queria beber e inesperadamente me roubou um beijo. Acho que não consegui esconder a minha surpresa .

Nos falamos, por dias, mensagens foram trocadas, poemas foram enviados. E sumiço, eu não entendi porque ele fez aquilo, mas ele sumiu e numa noite de quinta-feira enquanto eu discutia sobre romantismo no intervalo da faculdade, recebo uma mensagem dele: oi, sinto sua falta. É, eu não podia me apaixonar por aquele cara, não podia.

Nós namoramos, demoraram oito meses e ele fezmeu olho brilhar com aquele pedido surpresa, nós namoramos, nós nos conhecemos, fomos ao cinema mais de cem vezes, cozinhamos, eu atrapalhada, ele conhecedor.  Nós terminamos. Sim, um dia eu liguei pra ele, desesperada pra conseguir resolver os nossos erros e não consegui. Terminamos.

Chorei, chorei mais do que qualquer dia da minha vida, as palavras ficaram sufocadas no meu peito, eu chorei e tive raiva, eu chorei e tive medo. Todas as músicas me lembravam ele, todos os filmes de amor, todos os meus textos. Eu ia num restaurante japonês e me perguntava onde estava ele, que não ali do meu lado.

Nós voltamos, após cinco longos meses de aprendizagem, de alto conhecimento, de amadurecimento, não foi fácil voltar, não foi como nos filmes de comédia romântica, o casal correndo na praia sob a luz do por do sol pra s encontrar e viver feliz pra sempre, não. Doeu, tiramos os espinhos e as limitações.

E todas as estradas que temos que seguir são sinuosas, e todas as luzes que nos levam até lá nos cegam, é, tem tantas coisas que eu quero dizer pra você e não sei como. Nossa música, Wonderwall do Oasis, aquela que ouvimos enquanto ele me levava pra casa no primeiro encontro, acho que realmente nos descreve. Agora quando eu olho pra ele, eu vejo tudo que somos, somos amor, somos força, somos cumplicidade e paixão. Somos tudo que deveriamos ser e tudo que preciso que a gente seja.